Quando o dia nasce com neblina, as montanhas se escondem, e ficamos envolvidos por uma umidade. A temperatura torna-se relaxante, mantendo-se quente e fria, harmoniosamente. O sol transforma-se em figura imaginária, dando pistas com seus fios de luz. E o dia tece sua teia, até que a noite surja em penumbra estrelada.
O vazio das angústias e as pressões das dúvidas adormecem, e o pensamento flexiona-se no cansaço das decisões tomadas durante o dia, na neblina, na umidade, nos fios de luz. O corpo relaxa fatigado, esperançoso por restabelecer-se. Dormimos.
No entanto, felizmente ou infelizmente, sonhamos, desejosos por um renascer, mesmo conscientes que uma nova fadiga nos abalará, e novamente dormiremos, sonharemos e acordaremos. Este processo embaraçoso é o que chamamos de esperança, acreditando, apesar das probabilidades, de que o amanhã será sempre diferente.
Nossa humanidade conspira com o universo, e ficamos a jogar pedrinhas numa lagoa de desejos, percebendo no tato o peso, as arestas, a deformidade de cada singularidade. Nos jogamos juntos... não, paramos no instante em que nossos fios de luz poderiam dar novos nós. Medo? Também! Mas a densidade da relação estabelecida está em compreender esperançosamente que um novo dia nascerá!
Luiz Valentin Marcon
22 de agosto de 1992