Fragmento do exílio do papel




        
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                        A vida se prolonga ao peso dos anos que carregamos em nossos ombros, e repentinamente, você começa a perceber que não precisa carregar tanto peso, suportar  tantos constrangimentos; os atos jogam em nosso rosto a água fria da consciência, perturbadora, mas esclarecedora, de que a vida é uma só e não possui  tempo de se repetir. Neste exato momento, a minha vontade, e talvez de todo ser humano é de voar para bem longe de todos os problemas pessoais que insistem em existir, sem pedir licença, sem se apresentar, invadindo nossa privacidade repentinamente. Há! Como seria bom voar feito Ícaro, fugir em direção ao sol, mesmo sendo um momento suicida com asas fixadas em cera, se derretendo ao calor da proximidade do astro, como seria maravilhoso cair então no mar, sem deixar vestígios e virar mito, carregando  os trágicos significados universais do desejo, com ousadia e liberdade.
                           Algumas pessoas desabrocham apenas uma vez na vida, e depois que isso acontece, murcham por dentro, mantendo aquela aparência de vida desprovida de significado. Então, diariamente, que  nossos botões desabrochem, que eles saiam pelo nariz sentindo o bom perfume da vida,  que esbugalhem nossos olhos para vermos as belezas do mundo, que abram nossa boca para exalarmos o gosto das belas palavras e que nossos ouvidos ouçam a boa música da natureza. Assim,  os que ainda estão  para desabrochar perceberão o jardim da vida, pois precisamos exalar nosso interior e fecundar a vida com a felicidade que desejamos.
                            Hoje, sempre é um dia  que não possui condições de  se repetir, assim como todos os outros o serão, então, porque não fazê-lo melhor do que foi ontem? Eu sei, nos faltam determinações  para resistirmos as provocações. Talvez, determinação seja a única forma de superar os problemas cotidianos, mas para desenvolve-la necessitamos de objetivos claros sobre o futuro que desejamos, do contrário, construímos alicerces em mangues, vinculados a uma obsessão sem direção. E o mundo, tão vasto como diria o poeta, se amesquinha, pois não existe solução sem uma busca constante vinculada a uma determinação, ao acaso, somente a sorte, que não tem hora pra chegar, e geralmente, pode tardar.
                           Ora, que se erga o sol de todo dia, que ilumine nossos caminhos, deixando evidente os lugares que devemos pisar, que nos banhe com seu calor, que nos mova justificando nosso movimento em prol de uma vida melhor, mais repleta de amor, mais transbordante de planos, e mais claro de essência sobre o que somos. Que o sol de todo dia  torne justo nosso lugar no mesmo, para que nos banhemos  de seus raios eternos e transpiremos nossa felicidade de existir.                                                                                                                                                             
(...)                            
Luiz Valentin Marcon
Março de 1999


Bons Livros pra se Viver

  • Antologia Poética, Caslos Drummond de Andrade
  • As Três Irmâs, Tchekhov,
  • Cartas a Théo - Vincent Van Gogh
  • Como Quem Risca a Pedra, Paulo Sá Brito
  • Eu e Outras Poesias - Augusto dos Anjos
  • Moll Flanders, Daniel Defoe
  • O Macaco Nu, Desmond Morris
  • O Mundo Como Vontade de Representação, Arthur Schopenhauer
  • O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
  • O Sofrimento do Jovem Werther - Johann Wolfgang Goethe
  • Pequeno Mundo, Hermann Hesse
  • Tocaia Grande, Jorge Amado
  • Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas - Pirsig Robert M.

Além do ponto...

Terra do Nunca, Imaginariun, Brazil
Um ser comum, eventualmente comunicável, geralmente distante, pensando...